Dragão, escadas do Palácio Biester
Tudo o que era para fazer, já fiz;
Agora um incomensurável e tolo tédio
Preenche-me por completo e faz-me feliz.
"Fui tudo, nada vale a pena", disse o poeta
E agora sou na pele, como ele, um petiz
Que joga à bola e no todo se completa.
Ai quem me dera nada mais haver no universo!
Uma imensa quantidade de galáxias e buracos negros
Que se reduz ao poder sintetizador de um verso.
Todos os insondáveis mistérios e inauditos segredos
Se resumem a essa plenitude sem terminus nem reverso
E quem subitamente entender abandona todos os medos
E, nesse instante, sem sombra de variação,
Vive o poeta moribundo desde que dormita no berço
Nessa incompreensível e única aflição
De na acção penetrar o cosmos ficando imerso.
15.12.2022