terça-feira, 27 de novembro de 2018

Alquimia

Camões, Os Lusíadas, 1572, p. 6.


Grifo de ouro e de diamante
Que permaneces constante
Na travessia das aparências
Pedra filosofal de todas as essências.

Ensina, sussurrante, o augúrio
Que, ignoto, o futuro reserva
Por sinais, aromas e pelo murmúrio
Da água que nas gárgulas se conserva.

Mais que ciclo de gelo e de degelo
Eterno fluxo de perfeito fluido,
Matéria trabalhada em obra do Belo
Plasmada na perfeição do tempo concluído.

Tanto conhecimento que em amor redunda,
Imenso saber que torna a Terra fecunda
Na pureza dos quatro elementos
Todo que se difunde, espalhado pelos ventos!

Possa transmutar este barro fenomenal
Em alquímico ouro de qualquer metal;
Seja o corpo esse alambique do sobrenatural!

26.03.2018

quarta-feira, 27 de junho de 2018

Refundação

Tomar, Convento de Cristo, abóbada da Sala de Iniciação

Refunde-se Portugal
Ditou o líder altivo
Com a mensagem de Natal.
Mas aquilo para que vivo
Não tem refundação
Não se refunda Portugal
Sem se estar na fundação.

A língua portuguesa
É por excelência da poesia
Pudera haver certeza
De se dizer o que se dizia;
Porém, estar a refundar
Uma velha apostasia
É como viver apátrida sem lar.

Refundação é partir a descobrir
É navegar por sete mares
Os Lusíadas escrever sem mentir
Aliança de nações sem pares
Lusitânia sem comparação
Povo que levanta santos altares
Estranha palavra - refundação.


26.04.2013



segunda-feira, 19 de março de 2018

Não Inscrição

Finisterra


Não estou inscrito
Ou se estive, fui apagado
Nada merece ser escrito
Em lado nenhum há fado.

A língua que falo
Apenas uma entre mil
Alguém escreve para apagá-lo
A velhice do homem senil.

Entre tantas páginas 
Livros, folhas, jornal
Há as que nem imaginas
Que passam do bem e do mal.

Perdurar é futilidade
Fomos iguais com a revolução
Hoje "tudo é vaidade"
Somos a não-inscrição.


26.04.2013