Difundir a fé cristã,
Navegando por mares nunca
Antes navegados. A satã
Subtrair o reino, a espelunca!
E aumentar os domínios
Do divino, conquistando terras
E almas, novos senhorios
Sobre rios, planos e serras
Esse alvo luso olvidado
Foi por essa ínclita geração
Sem cruz, nome, condado
- Apenas um mar de desolação!
Como transmitir valores
Que nunca ninguém recebeu?
Se a alguém os dou, com dores,
É porque recebi o dom que Deus deu!
Trump & Bolsonaro, G20, Osaka, 28.06.2019, Veja
Parasita do caneco
Explorou o filho que nem um boneco
Sugou a vida, tirou as coisas
Subsistiu adorando satanás
Assumiu a heresia
Do ateísmo fez religião
Vingou nessa hipocrisia
Aniquilou a família na solidão.
Porém, a verdadeira marca da besta
Estava na realeza muito honesta
Do boneco, na nuca e não na testa.
06.11.2011
Direito ao sentimento pede quem ama
E logo vê nos gestos do amado prova
Desse mesmo amor, deitado na cama
Revê-se no sonho que deseja e renova.
Porém sentida permanece a amada,
Esquecida mais que em sonhos lembrada
Pois o desejo do amado não lhe é comunicado
Nem se concretiza o anunciado fado.
De encontros e desencontros se constrói
Tal romance que o amado é ignorado
E nessa ignorância sofre e condói
O sentimento de amar e ser amado
18.03.2022
Nenhuma sociedade salta para fora da
sua ideologia dominante sem a sofrer,
conhecer, rejeitar, em cada acto revolucionário.
Costa, Maria Velho da, Cravo, Lisboa, Moraes, 1976, p. 104
Um dia mais tarde toda esta aflição
Será mote para esboço de sorriso
Um dia mais tarde, agora ainda não,
Agora, esgares de loucura, pouco siso.
Vida leve se vista em retrospectiva,
Porém pesada se levada dia-a-dia
Quadras partilham essa perspectiva
Duma vida vivida vadia num dia.
Depois virá riso, gozo e regozijo
Mas não hoje, porque o escravo
Não tem folga e o seu jugo é rijo
Como bala no cano de arma sem cravo.
24.05.2021
A guerra acabou.
Aqui, um monte de escombros,
Acolá, uma vala de cadáveres.
Eu observo-os
Chegou agora
Um grupo de trabalhadores;
Eles sabem que
A vida é correr e trabalhar
Para na cova acabar
Eles, corruptos cadáveres.
E é a pura simplicidade:
Eu observo-os
Correram, apressaram-se
E agora, a guerra acabou,
E eles, os trabalhadores,
Jazem mortos nas trevas.
Quanto a mim,
Eu sombrio fiquei,
Observando-os correr;
A guerra foi só para eles.
Eu, que fui desprezado!
Agora, eles mortos estão,
Pela guerra ultrapassados
Loucos são eles, pobres soldados!
Eu observo:
Não lutei nem morri,
Porém fiquei,
E vivo não estou:
Escombros sou.
(O Livro dos Meus Poemas, E-A, s/d, pp. 36-37)
Recolher rosas do jardim
Para também as podar
Implica saber que assim
Colhe sem espinhos tocar.
No imenso balde de flores
Para a duas mães oferecer
Couberam tantos amores
Quantas pétalas a surpreender.
Tantas brincadeiras de criança
Que contêm imensa alegria
A terna felicidade no dia da mãe
Tempo eterno ecoando na infância.
03.04.2021
