quarta-feira, 12 de maio de 2010

Sombras















Capitéis na porta da Sé de Lisboa, lado esquerdo


À sombra, perto do lago onde os peixes vermelhos
Nadavam, procurando algumas migalhas ou insectos
Desprevenidos que servissem de lanche, os velhos
Gatos esperavam pardais, em idade menos provectos.

Até mesmo as palmeiras, com as suas bananas,
Participavam no ciclo do comer, alegre festim
Banquete de criaturas, homens e deusas dianas
Em que comer e ser comido é um acto sem fim.

Mesas e cadeiras, também elas, apreciando fazerem
Parte da criação, rejeitavam serem meras narrativas,
Mas apenas suporte da escrita original - não o ser em,
Mas sim o ser aí, apanágio da eternidade e das divas.

Eis a Natureza, que prossegue o seu caminho, louca
Na ebriedade simples da água, e sua eterna rival,
A Técnica, também ela numa exigência que coloca
A verdade como simples produção, na corrida do mal.

Oh! Mediador entre os animais e os deuses, ignara
É a tarefa do Homem: participar na infinita ceia
Ou alimentar de verdade a Técnica que o mata.

Mas, no imenso saber da criação ignorante de Geia,
Tudo tem explicação: o Homem é pasto da autómata
Técnica, que o sucede no topo da alimentar cadeia.


10.08.2000

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