
"Luzes da Floresta", autor desconhecido
Desencontros no consultório da esperança de que me curo:
Dora, que diferença na postura e no tão expedito vestir!
Apenas a voz melada, os olhos doces e o cabelo castanho escuro
Permanecem iguais; tudo o resto é novidade, fluxo, devir.
Pernas tão elegantes no toque do veludo azul que arrepiam,
Enlevam no transporte do andar, e se por minha culpa te zangas
Arrojo-me a teus pés, que nas sandálias cinzentas rodopiam
E vou derretendo devagar no calor negro dessa camisola sem mangas.
E que distante estás da menina que se sentava no chão da varanda,
Enquanto esperava, insondável, impenetrável e imutável a chamada
Para o baile! Hoje és a dama que conduz a corte, és quem comanda
O cortejo e és, oh senhora do ígneo parecer, por este bobo amada.
Quem tão bem cuida das aparências, certamente conseguiu
Derrotar a locubridão do vício, e escolheu por par a vida...
Apesar de distante, no bulício dessa tarde, alegre é quem viu
A beleza no corpo, na alma e na aparência que convida.
A aparição de tanto fulgor, luz e jóias é espectáculo sem demora
Que ofusca mais que mil e uma luzes do salão nobre onde se dança,
Pois breve é a vida e mais efémera ainda é a tua beleza, Dora.
Apenas posso desejar que, envolta em tanto brilho de mudança,
Jamais troques de par, e continues a dançar na vida que se comemora
Para que teu corpo tão atraente seja a aparência da renovada esperança.
09.12.2000